O diálogo entre o tempo e o destino




Um texto sem clichês, com objetividade e emoção. Receita infalível para que o próprio texto se torne o grande protagonista da história. A principal característica da novela das seis, A vida da gente, de Lícia Manzo e direção de Jayme Monjardim, são os diálogos bem escritos e que saltam da boca dos atores numa facilidade que um complementa o outro. A trama entrou no ar substituindo o sucesso de Cordel Encantado. Com uma história que só o destino pode traçar, Lícia fez com que questões do cotidiano, como o amor entre duas irmãs, fosse tema de discussões. Somos acostumados a ver o casal romântico como protagonista das novelas, mas aqui o amor está em toda parte e mais forte nas personagens Ana e Manuela, interpretadas fielmente por Fernanda Vasconcellos e Marjorie Estiano, respectivamente. Em vários momentos da história o público mudou de opinião sobre o destino dos personagens. As cenas sempre trazem uma carga dramática e melancólica representando o sofrimento e o diálogo é tão cuidadoso que chama a atenção dos telespectadores, que mesmo não estando na mesma situação dos personagens, acabam de algum modo se identificando com as conversas. O texto é simples, é a vida da gente.

Somado ao texto de Lícia Manzo, a direção de Jayme Monjardim revela a proximidade com a narrativa, que através de planos abertos capta a essência do ambiente e o contexto ao qual está inserido. A fotografia da novela é acolhedora, mostrando que um lugar tão simpático e turístico, como Gramado e Porto Alegre, também são ambientes em que o destino enlaça A vida da gente. O mérito também está na interpretação. O elenco inteiro mostra competência, tendo como destaque o trabalho dos atores mirins que surpreendem ao público e aos críticos. Jesuela Moro, que interpreta a pequena Júlia, entendeu o personagem como gente grande. A expressão, a segurança e o jeito natural são o resultado de uma interpretação singular.

Em a vida da gente não há mocinha e vilã, há pessoas normais. Essa é a prova que uma boa história mesclada com o cotidiano pode sim ser sucesso. Tudo na trama é determinado pelo tempo, assim como a música da própria abertura, “oração ao tempo” de Caetano Veloso, interpretada por Maria Gadú. O tempo cura e cicratiza as feridas mais profundas se o amor for verdadeiro. Sem segredos ou suspense, a sequência dos fatos traz dinamicidade e ritmo a história, conquistando o interesse do público e lembrando que o tempo é o maestro do destino da vida da gente.


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