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Mostrando postagens de novembro, 2016

Aviões fantásticos e outras histórias

É interessante observar o olhar de admiração/curiosidade/afeição/estranhamento que as pessoas esboçam com a chegada de um avião. Ontem estive no Aeroporto de Juazeiro do Norte e não pude deixar de notar aqueles olhares desnorteados e ao mesmo tempo focados em direção a um lugar: a pista de pouso. Do garotinho no braço da mãe à espera do pai ao velhinho que carregava em sua expressão a agonia da saudade. Olhos curiosos dançando pra lá e pra cá, numa valsa bem ensaiada e com  seriedade de m tango legítimo. Olhares aflitos na imensidão do horizonte que não apontava nenhum passarinho gigante pronto pra posar.  Um clima de agitação se instalou quando um homem gritou “Lá vem ele”. E o garotinho dizia “É papai, é papai”. Quando o avião posou foi possível sentir o alívio daquela gente que mesmo admirando a performance daquele negócio enorme, ainda não consegue confiar totalmente. São tantos “Graças a Deus” juntos que mais parecem ecos. Seguidos por “Tem que ser muito inte...

Atraso

Ninguém sabe o dia que parte Menos Seu pereira Que sabia e não escondia Seria num dia qualquer de outubro Vítima de enfarte Padre Cícero teria lhe adiantado o assunto O finado mês chegou Seu Pereira começou os preparativos  Estava pronto pra enfrentar seu destino Se é pra morrer tem que ser com dignidade Jamais de improviso Encomendou caixão, velas e ingredientes pro caldo Chamou até gente pra fingir saudade E ficou de sobreaviso Convidou o povo pro velório Outubro passou e nada aconteceu Seu Pereira indignado continuou o falatório Sobre sua morte que não veio Diante do imprevisto Percebeu que aquilo era um sinal De que talvez fosse imortal Deixou de tomar os remédios Acendeu o cachimbo Foi refletir lá pras banda do quintal E passou o resto dos dias morrendo de tédio No alpendre divagou Sobre o tempo e o destino De repente lhe deu uma caganeira E Diante de uma suadeira e grave situação Seu Pereira morreu naquele dia...