Pinha nunca mais!
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Pinha ou fruta do conde |
Eu
tinha oito anos quando tive a pior dor de barriga seguida de vômito da minha
vida. Lembro que estava sentada no trono, desmanchada em merda, a porta do
banheiro semiaberta e eu gritando ao pé do ouvido de mainha: “se eu não morrer
hoje, nunca mais eu como pinha”. Foi o juramento mais bem jurado da galáxia.
Havia muito drama, mas havia muita dor também. Era uma cena lamentável. Diarreia
pelos fundos, lágrimas pelo corpo e a goela já assada de tanto vomitar. A
verdade é que o problema não tinha sido a pinha em si, mas o exagero, pois
sempre tive o olho bem maior que a fome. Meu olho era tipo do tamanho do
pescoço da girafa e meu estômago pouco maior que uma rã.
Me
acabei na pinha, literalmente. Que eu lembre foram sete pinhas, alternando
entre maduras e verdes. Naquele dia almocei, lanchei e jantei pinha. Comi
aquela frutinha verde como se fosse o último dia da vida. E ela parecia tão
inofensiva. Certamente, seria a última vez que comeria pinha. E foi. A única
coisa boa é que devido ao meu estado não tinha como ir à escola. E na terceira
série não gostava de ir para o colégio. Mas, juro a vocês de pés e dedos
juntos: preferia cinco aulas de matemática seguidas a estar naquela situação.
“Ai
que exagero. Porque fui comer tanta pinha”? Era o pensamento que me rondava. O
arrependimento dos bêbados quando estão passando mal. Até hoje sustento a tese que a desgraça da humanidade não foi culpa de uma maçã... Adão e Eva com certeza se acabaram na fruta do conde.
Depois
percebi (muito tempo depois) que a pinha era inofensiva e que excessos nunca
fazem bem. Ofendem tanto sua saúde como sua dignidade. Exagerei. Naquele dia
perdi o controle. E por mais que vovô me oferecesse pinhas frescas, jamais
consegui gostar delas novamente. Fiquei desconfiada em relação a elas. E embora
entendesse que foi o exagero e somente ele o responsável por me deixar doente,
continuei exagerando por longos anos, despejando a culpa na coitada da pinha.
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