Túlio
Túlio escutava
a música Tempos Modernos e não acreditou que o tempo escorre pelas mãos. Túlio
não é bom em apresentações, nem em qualquer coisa que volte a atenção para ele.
Segue o coração, sempre. Toda vez que
tentou usar a razão para resolver questões matemáticas e pessoais não deu
certo. Túlio é do tipo cheio de manias. Manias esquisitas. Manias do mundo
moderno. Não gosta do cheiro de pasta de dente, não senta em banco de ônibus
que o estofado estiver rasgado, não gosta de tomar banho, mas toma. Diferentemente
de muitas pessoas, Túlio é sensível ao distinguir entre aquilo que não gosta e do
que é necessário. Ele não tem muitas ambições, mas todo sábado aposta na
loteria. Túlio acha que gosta do que faz, mas a vida não está fácil para
ninguém.
Na flor
da idade, de vez enquando passa por algumas crises existenciais, normal! Se
apaixona todos os dias e tem uma imaginação fora do comum. Apesar de ter 18
anos, Túlio acredita que pode lutar como Jason Bourne, que o beco diagonal
realmente existe e que atrás da montanha existe um mundo além. Se fosse colocar
no papel tudo que imagina não haveria papel suficiente. Mas, Túlio imagina
demais e não sai da cadeira. Ele tem consciência disso, mas lá no fundo do seu
coração apaixonado sabe que seus pensamentos são possíveis. Às vezes sente que
não nasceu na época certa. Acha que combinaria melhor se tivesse nascido no
século XIX. Não é muito chegado a tecnologia, acha que as pessoas estão
desaprendendo a conversar sem a mediação do computador. Não tem Facebook, twitter, MSN, e-mail e nem
celular. Se quiser falar com ele é preciso ir até sua casa.
Não
gosta de discutir sobre política, religião e beleza. Ainda está formando
opinião sobre esses assuntos. Gosta de música. Se tem uma melodia solta no ar
ele também se solta. Gosta de novelas e de vôlei. Não sabe o título de sua
crônica favorita, mas sabe que é do Veríssimo e acha que o Fernando escreveu para
ele, exclusividade para o Túlio. Túlio acha que nunca vai encontrar a sua
metade da laranja, mas ao mesmo tempo ele pensa que “nunca” é um lugar grande e
prefere substituir pelo talvez. Sonha em viajar pelo mundo e conhecer outras
culturas. Às vezes pensa e não fala, sente e não diz. Túlio não consegue se ver no futuro e tem quase certeza que vai viver pouco, mas tem planos. Seus planos
são seus sonhos.
Ele
ainda é uma criança de 18 anos. Sente a responsabilidade lhe dando um cascudo,
mas enquanto puder ignorá-la vai continuar lhe virando as costas. Enquanto
muita gente critica a televisão, ele adora ficar de frente a ela. Sua fruta
predileta é Jambo. Não gosta de sair, pois tem a impressão que todos o estão
encarando, mas ainda assim sabe viver. Túlio escreve roteiros românticos, mas
acha que amor de contos de fadas só acontece em contos de fadas e novelas. Tem medo da morte, mas morre de medo dos
vivos. Percebe que o mundo evolui, mas algumas pessoas regridem. Não vê a hora
de se aposentar, mas acha que não vai desfrutar desse momento. Prefere água de
coco a aguardente. Túlio gosta de clichês.
A única certeza que tem é que a certeza pode não ser tão certa assim. E
ele encerra sua última fala dizendo: “foi desse meu jeito que conquistei muitos
amigos e poucos amores”.
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