Cuide bem do seu amor!


Não contente com o resultado do jogo, Joel prometeu que não iria mais ao estádio. Percebeu que era um torcedor fraco porque seu time era um fracasso. Mas, por que tanto amor? Por que o choro depois da derrota? A inconsolável tristeza da promessa o fazia perceber a dificuldade da separação. Os primeiros dias foram duros, tentava não sair de casa, se saísse seus conhecidos iriam comentar sobre o jogo e ele, em outros tempos, iria defender seu time, mas agora iria se calar. A situação crítica da saudade de Joel ocorreu duas semanas após sua promessa quando, pela janela, viu uma criança trajada com o uniforme do time do coração. Sentiu a nostalgia bater na porta, pois via o seu reflexo naquele garoto.

Tentou a carreira, mas o barraram por causa do tamanho. Passou a escrever textos esportivos, sem publicá-los, guardava suas lembranças em cima das linhas tortas que ele mesmo pautava.  Eram poucas palavras. Toda sua emoção cabia em uma folha, afinal é um cara tímido e sucinto.  Sem televisão, rádio ou qualquer meio que o fizesse cair ao ponto inicial, passava os dias solitário com a pretensão de que boas novas estavam pra chegar. Por muito tempo acreditou que não poderia viver sem aquele esporte que o presenteava diariamente. Era tanto orgulho que não cabia no peito. Apesar de não gostar do uniforme listrado, do calção justo e das meias coloridas, não dizia a ninguém, sua opinião ficava trancada a sete chaves. E quando o questionavam sobre uma má atuação, ele apenas respondia com um arregalado de olhos.

Joel fez apostas. Vendeu o carro. Perdeu o casório. Valeu a pena. O silêncio do estádio contagiava. Ali era um estado de espírito. A lembrança do balbuciar dos corações, a vibração dos aplausos depois de um lance e os sorrisos intercalados entre agonia e emoção fazia Joel desmoronar naquela cadeira do Papai no meio da sala sem mobília. Quando decidiu sair de casa para olhar o movimento na rua, percebeu que era dia de clássico. Voltou para a entrada e pensou: “Que besteira é essa que eu tô fazendo, eu quero mais é ver o Giba jogar!” Joel voltou a dar olé, voltou a gritar “É Giba neles” e teve a sensação que iria desmaiar quando o jogo terminou com um bloqueio triplo.

Joel retornou radiante para casa, pulando como um jogador de Vôlei e decidiu cuidar bem do seu amor, seja ele quem for! A promessa era desgraçada, mas para sorte de Joel, tinha jeito. Não acreditava em promessas, mas no leito de morte pediu desculpas a Deus por ter abandonado seu time. Prometeu nunca mais fazer um ato tão inescrupuloso como esse. Depois da promessa, Joel se foi e Giba começou a partida com um ace.

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