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Mostrando postagens de fevereiro, 2014

Mar noturno

Já vi infinitas cenas de novelas e filmes em que os protagonistas vivem uma das melhores sensações que um ser humano pode sentir: entrar no mar à noite. Sempre quis fazer isso, parece que lava a alma, renova suas forças, revigora sua crença em si e no mundo e coloca mais tempero em sua vida, literalmente. Na noite de sexta-feira passada, depois de 21 anos de existência, consegui realizar esse desejo. Entrei no mar como se estivesse reconhecendo um velho amigo, reencontrando-o. E realmente estava. Sem preocupação alguma, esqueci-me de tirar até o relógio que havia comprado no camelódromo (ele não é à prova d´agua). Mas, eu estava no mar 23h00min, pulando ondas, ‘tomando caldo’ e agradecendo a Deus por aquela oportunidade, juntamente com os meus amigos. Em um dos mergulhos, segui o conselho que estava escrito na blusa que vestia: “HAKUNA MATUTA”. Não se preocupe com sua roupa molhada, com seu cabelo cheio de areia e sal ou com o seu dinheiro ensopado. Não se preocupe com nada. Meia ho...

Dredão

Em meados de 2003, deixei de pentear o cabelo. Não me pergunte o porquê, nunca saberei explicar e mesmo que soubesse os argumentos não seriam convincentes. Comecei a sentir o que era depressão e esquizofrenia. Tornei-me uma adolescente antissocial.  Foram tempos difíceis, não há como negar. Tarefas simples do cotidiano eram obstáculos enormes na minha rotina; Encostar a cabeça no travesseiro: impossível; Usar shampoo: preocupante (poderia causar mofo no nó); Conversar com os amigos: angustiante; ir pra aula: aterrorizante; Sair de casa: sufocante. Não é fácil desatar um nó, qualquer que seja ele. Esse nó, especificamente, mexia com a autoestima e com o psicológico. Foram dois anos e meio convivendo com algo que você não gosta, mas continua deixando ali pra não piorar a situação. Só que o ruim sempre pode piorar. E piorou. Pensei em fugir, fiz uma lista negra, desaprendi as regras da boa convivência. Em outubro de 2005, minha irmã decepou o dedrão da minha cabeça. Passamos hora...

Né, não?

 “Né, não?”. Experimente dizer não. Outro dia a senhora que comprava pão, logicamente na padaria, disse a seguinte frase: - Esses políticos são ‘tudo’ uns ladrões, né, não? Em minha mente concordei parcialmente, pois se ela não tivesse introduzido a palavra ‘tudo’ estaria tudo OK, porque uma coisa que eu aprendi nessa vida é que nunca se pode generalizar.  E aqui não entra aquele ditado “nunca diga nunca”. Nunca se pode generalizar. Pois bem, a senhora de 80 e poucos anos simpatizou com minha cara. Olhado fixamente para mim, ela explanou: - Tá tudo muito caro, né não, minha fia? Mais uma vez concordei parcialmente, mais do que na primeira vez. O gesto de balançar a cabeça afirmativamente não demonstra que você está concordando apenas em partes. E era por isso que ela estava gostando de monologar comigo. Sentindo-me agoniada por causa da fome, comecei a ficar ligeiramente irritada com o tom elevado das exclamações da senhorinha que gosta de utilizar ‘tudo’ ...