Né, não?

 “Né, não?”. Experimente dizer não. Outro dia a senhora que comprava pão, logicamente na padaria, disse a seguinte frase:

- Esses políticos são ‘tudo’ uns ladrões, né, não?

Em minha mente concordei parcialmente, pois se ela não tivesse introduzido a palavra ‘tudo’ estaria tudo OK, porque uma coisa que eu aprendi nessa vida é que nunca se pode generalizar.  E aqui não entra aquele ditado “nunca diga nunca”. Nunca se pode generalizar. Pois bem, a senhora de 80 e poucos anos simpatizou com minha cara. Olhado fixamente para mim, ela explanou:

- Tá tudo muito caro, né não, minha fia?

Mais uma vez concordei parcialmente, mais do que na primeira vez. O gesto de balançar a cabeça afirmativamente não demonstra que você está concordando apenas em partes. E era por isso que ela estava gostando de monologar comigo.

Sentindo-me agoniada por causa da fome, comecei a ficar ligeiramente irritada com o tom elevado das exclamações da senhorinha que gosta de utilizar ‘tudo’ em tudo. Quando finalmente o padeiro entregou os pães para a Dona Tudo, ela olhou para mim e proclamou:

- Tá tudo bom com minha ‘fia’?

Ela tirou o “né, não” e eu respondi:

- Não.

Ela replicou:

- É assim mesmo, mas tudo vai dar certo.

E eu respondi a tréplica:

- Minha senhora, se tudo na vida desse certo eu não estaria esperando o pão há mais de 15 minutos.


Ela foi embora e eu pensei: Que pessoa má eu sou, acabei de dar uma cortada numa velhinha. Eu estava com fome, motivo mais que suficiente para ficar estressada, né não?!

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