Dredão

Em meados de 2003, deixei de pentear o cabelo. Não me pergunte o porquê, nunca saberei explicar e mesmo que soubesse os argumentos não seriam convincentes. Comecei a sentir o que era depressão e esquizofrenia. Tornei-me uma adolescente antissocial.  Foram tempos difíceis, não há como negar. Tarefas simples do cotidiano eram obstáculos enormes na minha rotina; Encostar a cabeça no travesseiro: impossível; Usar shampoo: preocupante (poderia causar mofo no nó); Conversar com os amigos: angustiante; ir pra aula: aterrorizante; Sair de casa: sufocante.
Não é fácil desatar um nó, qualquer que seja ele. Esse nó, especificamente, mexia com a autoestima e com o psicológico. Foram dois anos e meio convivendo com algo que você não gosta, mas continua deixando ali pra não piorar a situação. Só que o ruim sempre pode piorar. E piorou. Pensei em fugir, fiz uma lista negra, desaprendi as regras da boa convivência.
Em outubro de 2005, minha irmã decepou o dedrão da minha cabeça. Passamos horas e horas retirando o estranho mundo que se alojou gradualmente em mim. Fisicamente ele estava fixado apenas nos cabelos, mas ele fazia mal ao meu espírito. O dredão saiu de mim como se não aguentasse mais viver naquela situação e lógico que a recíproca era verdadeira. Penso que os nós que aparecem no decorrer da nossa jornada são difíceis de enfrentar, mas sempre há um jeito. Há quem dissesse que aquele nó não tivesse jeito, por vezes cheguei a acreditar nisso, mas teve.
Sim, o final desse capítulo foi feliz. O nó saiu e com ele todas as angústias e algumas fragilidades. Início de 2014 e ainda me perguntam como isso aconteceu, mas nem o google sabe responder. 

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