Aportuguesado

A língua portuguesa é difícil, não há como negar. Verbos transitivos e intransitivos, objetos diretos e indiretos, complementos verbais e nominais, adjuntos adverbiais, predicados, e tantos outros embaraçam as linhas cartesianas de muitos cérebros. Particularmente, gosto do português. Tanto do português daqui como daquele que atravessa o atlântico. Entretanto, amo o aportuguesado.

Não sou fã da gramática pura. Há quem goste. Gosto da sonoridade, dos constantes eufemismos e dessas figuras de linguagem que carregam duplo sentido e enriquecem nosso repertório de piadas. A vírgula mal colocada e por vezes, mal intencionada, pode gerar dubiedade. Outro dia fui explicar a uma amiga que utilizar o twitter é fácil: Ao invés de “Fulana, é fácil”, utilizei: “Fulana é fácil”. Como a amizade é de longa data e eu corrigir minha declaração rapidamente, não houve problema.

E estou eu aqui escrevendo sobre a língua portuguesa, enquanto um programa de computador tenta me corrigir. #WORDVSF!

Outro dia estava na fila do banco. Guardava o lugar da minha tia. Eu era a única com menos de 50. Um senhor muito simpático conversava sem parar. Não havia pausa entre uma frase e outra. Era tudo emendado, o ouvinte que arrumasse um jeito pra tentar compreender o que ele falava. Era obrigado compreender. Ele fazia perguntas, tipo uma sabatina, depois que terminava de contar um ‘causo’.

- Menina, conhece Luiz Boa?
- Não, conheço não. Ele é daqui do Crato?
- Ele quem?
- Luiz Boa.
- Menina, eu tô falando da cidade lá de Portugal.
- Ahh, Lisboa.
- Sim, e você tinha entendido o que? Esse povo novo não presta atenção em nada.
-Não conheço não, Senhor.
-Minha filha mora lá. Pense numa cidade boa e agradável. Saudades de Luiz Boa.

É desse português que eu gosto. O inventado. Fruto da criatividade. A língua portuguesa é a oficial, o “aportuguesado” é o mais utilizado. Na verdade, o Brasil é poliglota. 

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