E agora, José?!

José chegou ao Brasil somente com a roupa do corpo. Perdeu sua mala na imensidão do mar após uma confusão com ingleses. Mesmo sem roupas e dinheiro, José se encheu de alegria quando colocou os pés em terras brasileiras. Achou tudo muito diferente das histórias que seu pai contava. Mas, olhou pra Chapada do Araripe e confirmou o que Seu Luiz Gonzaga dissera: Cratinho é terra boa.

Decidiu que ali ficaria para o resto da vida. Aprendeu a cantar o hino e é mais patriota do que qualquer brasileiro. Com ajuda de amigos abriu uma cafeteria na Rua Teófilo. É flamenguista de coração e costuma discutir com o vizinho sobre futebol.

Conheceu Bernadeth numa manhã de sol escaldante. A moça veio até o balcão com a cara pintada com as cores da bandeira nacional e pediu um genuíno café, dois pães amanteigados com mortadela e mais um café, só que agora com leite. José ficou bestificado com tamanha fome, mas ficou ainda mais lesado com a beleza daquela garota. Acabou que não se aguentou e puxou conversa.

- Desculpe a intromissão Senhorita, mas por que tem tinta em seu belo, digo, em seu rosto?
- Revolução. Por um país melhor, pois só nós podemos colocar o Brasil pra frente e varrer a corrupção que assola a nação!
- E pra fazer isso precisa pintar a cara?
- É só uma simbologia.

Enquanto Bernadeth comia, José foi até a despensa. Procurava algo. Queria ajudar a garota de olhar encantador e também gostou a ideia de fazer alguma coisa pelo Brasil. Quando voltou ao balcão, a moça já tinha terminado a refeição. Bernadeth, foi até pedro para pagar o que havia consumido. Quando virou-se em direção a saída do estabelecimento, José gritou:

- Leve a vassoura com você. Cortesia da casa!
- Que absurdo! Você tá me chamando de bruxa ou está insinuando que mulher só serve pra varrer casa?
- Nãaao! A senhorita falou que iria varrer a sujeira que assola o país. Queria ajudar de alguma forma... Desculpe se a ofendi.

José nunca se deu com metáforas. José nunca mais viu Bernadeth nos arredores da Rua Teófilo.

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