Parte II - Águas Calientes/Machu Picchu Pueblo
Cinco graus marcaram a segunda parada para a realização do meu sonho de infância. O trem, saindo da Estação de Poroy (Cusco), partiu pontualmente às 06h40min. As janelas embaçadas pelo frio não atrapalharam o cenário natural que passava diante de mim. Eu, ainda incrédula com tamanha beleza, estava dentro de um sonho. Nunca havia viajado de trem, então acabei vivendo uma experiência que nem estava dentro do roteiro primário, mas que veio para enaltecer esta jornada pelo Peru.
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Congelante |
Não consegui pregar os olhos durante a viagem sobre os trilhos, queria deixar aquela sensação de paz e felicidade bem guardada na memória. E não tem como dormir com uma série de montanhas e o Rio Urubamba te convidando para viver este sonho. Por vezes, me perdi tentando enxergar até onde iam algumas construções Incas que já estavam à mostra.
Cheguei ao Povoado de Águas Calientes/Machu Picchu Pluebo ainda pela manhã. A temperatura estava bem mais agradável que em Cusco. Ao cruzar a ponte de madeira parei por um momento debaixo de uma fresta de sol. Gratidão era o sentimento que me passava pela cabeça. Gratidão a Deus, família, amigos e a tanta gente que sonhou este sonho comigo. Porque sonho sonhado em conjunto é mais gostoso e mais bonito. A mesma ponte me fez viajar mentalmente para o Crato. Posso rodar o mundo inteiro, mas minha referência e o meu aconchego sempre será aquele lugar onde minhas raízes estão fincadas.
O povoado é bem pequeno e está no roteiro dos turistas por ser o caminho que dá acesso ao Parque Arqueológico de Machu Picchu (Apenas 6km). As ruas são estreitas, lotadas de restaurantes e pousadas e o que mais me chamou atenção: Não há carros, exceto os ônibus que sobem para Machu Picchu. Dá pra fazer tudo caminhando. A ausência de tráfego é tão distante do que vivemos nas grandes cidades que isso realmente me impressionou. Águas Calientes me remeteu a uma cidade cenográfica. Por vezes, pensei estar em um filme.
O povoado está imerso nas montanhas. É tão bonita a paisagem que é preciso cuidado para não cair, pois a beleza natural realmente hipnotiza. Ao mesmo tempo em que me hipnotizei com a beleza das montanhas, não pude deixar de notar as construções dos nativos. Casas pequenas, uma em cima da outra, sem acabamento... Tudo muito lindo e bem distribuído na parte debaixo do povoado, pra turista ver... Em cima, a realidade de um povo humilde que vive do turismo e não tem o mínimo de conforto. A desigualdade social é nítida.
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Águas Calientes/Machu Picchu Pueblo |
A noite cai em Águas Calientes como um espetáculo natural aos olhos. Um dos poucos lugares que conheci onde a noite é mais bonita que o dia. Em alguns momentos era meio inacreditável que eu estava tão longe de casa e tão perto de realizar o sonho de conhecer Machu Picchu. Apesar dos espanhóis terem encontrado o Vale perdido dos Incas, tenho que mencionar que os Incas não poderiam ter escolhido lugar melhor para construir o seu legado. A natureza colabora, os ventos também, e o lugar é tão escondido entre montanhas e precipícios que só te instiga mais e mais a continuar e admirar a inteligência de uma civilização que fez sua lápide na história.
Fui dormir cedo. Dia seguinte era Machu Picchu na veia, na memória e no coração. Pra encarar Machu Picchu de corpo e alma é preciso estar descansado e preparado para imprevistos. Dividi o quarto com duas chilenas que acenderam a luz no meio da madrugada: Ahh, chicas!!
O dia 06/06/2017 estava nascendo. Desta vez, ansiedade era o meu sobrenome. A noite em Machu Picchu Pueblo me recordou os versos de Clarice quando ela expressa sabiamente: “A noite de hoje está me parecendo um sonho. Mas não é! É que a realidade é inacreditável”.
Continua...
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